quinta-feira, 16 de abril de 2009

Síndrome de Benjamin Button


Estamos nos deparando com a mais nova síndrome da Era de Aquárius: a síndrome de Benjamin Button. Não existe a do Peter Pan? Pois bem, esta também está relacionada com o personagem. Muitos devem ter assistido (confesso que não tive a oportunidade ainda) ao filme em que o ator Brad Pitt nasce velho e à medida que passa o tempo, ele rejuvenesce.

Vou explicar melhor. Estava eu assistindo ao programa da Oprah e o tema era longevidade. A nova onda nos Estados Unidos (não poderia ser em outro lugar!) é a dieta (odeio esse nome) da restrição alimentar (meu Deus, piorou!). Depois da nação fast-food, da obesidade virar epidemia nacional, agora a tsunami das dietas malucas varre o país de ponta a ponta. Mas essa não é uma simples dieta de emagrecimento, essa dieta informa às suas células – não me perguntem como – que elas devem reduzir o próprio envelhecimento.

Pois bem, estava lá um homem de 51 anos, Joe, que adota, vamos chamar assim, essa DRA há oito anos e diz com todo orgulho que vai chegar aos 150 anos! Não questiono a dieta em si, ela até parece ser boa e bem balanceada, o indivíduo não passa fome e o cinquentão era bem enxuto. Depois deste depoimento, apareceu um casal que há 15 anos resolveu adotar a DRA. Além das bochechas rosadas, outra característica destes adeptos me chamou a atenção. Aquela cara de gente sem graça, com sorriso perfeito demais, congelado nas faces plastificadas e pasteurizadas. Isso me faz lembrar um outro filme com a Nicole Kidman, Mulheres Perfeitas. No longa em questão, as mulheres são programadas para serem esposas perfeitas e engomadas. O final, para quem não sabe ou não se recorda, é uma revolta feminina geral.

Em uma parte do programa, a Oprah pergunta ao Joe (uma figura de outro mundo, com certeza) se ele não sente vontade de comer outras coisas. Ele respondeu que quando sente vontade, ele pensa no seu objetivo. Resolvi assistir o programa até o fim na esperança da apresentadora perguntar por que ele pretende viver até os 150 anos. Infelizmente ela não perguntou, mas imagino que seria para plantar mais árvores para as próximas gerações ou exercer tanta caridade que não sobraria karma ruim para a próxima vida. Porém, vindo de uma cara como a do Joe, imagino que seja para entrar no Guiness Book, sei lá. Já que não pretendo viver tanto assim, essa resposta fica para minha próxima geração.

Imagina se a moda pega? Acabou raspar o fundo da panela de brigadeiro que acaba de ser feito. Comer uma caixa de bombons se o namorado esqueceu do seu aniversário? Nem pensar! Sentir aquele cheirinho de bolo assado saindo do forno... ai, ai... Que essa moda não chegue até aqui!

Será que um DRA pode fazer sexo com um não adepto? Sei lá, troca de fluidos, além de acelerar o coração, pode acelerar o envelhecimento precoce e o pobre Joe morre aos 120 anos! E entre eles mesmos, pode? De repente, estamos assistindo ao ser humano saindo do cinema e parando nas entrelinhas do livro Admirável Mundo Novo...

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Designer com acento no A

Ana olha no relógio. Chegou cedo para sua consulta, quase meia-hora. Mas se tratando de uma consulta médica, meia-hora e mais o atraso habitual do médico, somam-se uns cinqüenta minutos de antecedência. Como era sua primeira vez, a secretária a chamou para o preenchimento da ficha. Tudo corria muito bem até determinada hora:

- Qual sua profissão, querida?
- Designer.
- A ta, “desain”... Como é que se escreve mesmo?

Naquela manhã, diante da fatídica pergunta tomou uma drástica decisão:

- Escreve aí: D-E-S-A-I-N-E-R
- Mas, tem alguma coisa estranha... é assim mesmo?
- Não, você esqueceu o acento agudo no A.
- “Nem”, você está brincando comigo, né? Eu não sei como se escreve, mas assim também não é!
- Olha só, eu sou brasileira, fluminense, carioca, garota de Copacabana e estou te dizendo como se escreve em português.
- Você não pode sair inventando palavra assim!
- Por que não? Só porque não me chamo Aurélio? Se toda vez que você perguntasse, escrevesse como eu te disse, você não perguntaria mais.
- Olha só, “nem”, eu sou só uma secretária e você uma “desain”. Ninguém está aqui para mudar o mundo, certo? Para ser sincera não sei nem o que você faz. Que tal a gente pular essa discussão porque ainda tenho algumas perguntas para preencher a sua ficha e o médico já vai te chamar.

Ana respira fundo e se convence que realmente aquele não era o lugar nem aquela era a pessoa certa para esse tipo de discussão. Resolve ceder e soletra sem entusiasmo:

- D-E-S-I-G-N-E-R
- Ah não, “nem”! Agora você conseguiu acabar com a minha paciência!!!!

Designer de quê?

Recebi um telefonema da minha mãe assim:

- Minha filha, vem uma pessoa aqui em casa que é “color designer”. Ela trabalha com cor para carros, ela até energiza paredes! Você fez esse curso, minha filha?

Eu, pasmem, respondi:

- Mãe, eu estudei cor na faculdade. Ela deve ter se especializado nessa área.

Sem desmerecer essa pessoa que nem conheço, mas ora bolas, color designer? Para um país que adora americanizar seu vocabulário, quando me perguntam qual é a minha profissão e digo “designer” parece que empino o nariz e subo no salto, mas não é nada disso. Ainda não se conseguiu uma palavra melhor na nossa rica língua portuguesa que expressasse todos os setores abrangidos pelo design. Bom, mas isso já é um outro assunto.

Pois bem, aproveitando a palavra designer e colocando um prefixo em inglês, a pessoa passa de ordinary para fabulous! Aí temos toda uma gama de hair designer, color designer, eye designer, fashion designer e o que a imaginação – e o inglês – permitir criar.

Até nós, designers, quando perguntados sobre o que fazemos enrolamos a língua e tentamos puxar na memória aquela citação de um livro que explique em poucas frases a profissão. Por fim, explicamos o que fazemos no dia a dia e fica tudo certo. Então aquele profissional do cabelo que faz um super penteado “retrô” ou aquele da última tendência é um hair designer?

Para finalizar esse desabafo deixo no ar apenas uma pergunta, já dita por tantos e também com tantas respostas.

Afinal, o que é design?

Juliana Nunes
Something designer